quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Como a motivação pode nos ajudar a vencer os desafios de ensinar uma criança autista.

A motivação tem grande importância no aprendizado de habilidades, é um dos pilares mais importantes da metodologia na terapia comportamental. Após a avaliação das habilidades a serem ensinadas e a montagem do currículo para terapia, temos a missão de proporcionar um contexto de aprendizagem prazeroso. A criança autista além de apresentar as dificuldades específicas do transtorno, quando iniciam o tratamento já passaram por uma história de fracasso ou frustração, o que as levam a apresentar resistência à situação de ensino.
Nossa primeira tarefa ao iniciar o ensino de novas habilidades para crianças com autismo é identificar algo que esta criança goste ou se interesse muito, ou seja, algo que a motive, que reforce seus comportamentos. Esta é uma questão bem importante no processo de ensino já que nossas crianças geralmente não são sensíveis a reforços naturais; a maioria dos autistas, devidos seus déficits na área social não se interessam naturalmente pelas brincadeiras, atividades e elogios comuns ao universo infantil.
Sempre que a criança fizer algo adequado devemos disponibilizar itens que tenham valor reforçador para esta criança. Esta consequenciação positiva aumenta a chance do comportamento esperado se repetir no futuro. Chamamos de reforçadores sociais os elogios, abraços, beijos e carinhos e de reforçadores arbitrários os brinquedos, músicas, comidas etc. O terapeuta deve identificar a cada início de sessão quais serão os reforçadores efetivos para manter a situação de ensino mais motivadora possível.
No inicio do tratamento, novas respostas serão ensinadas e existe uma grande possibilidade da criança apresentar dificuldade neste processo. Usamos os reforçadores para consequenciar positivamente a ação esperada; nesta fase inicial do tratamento, sempre liberamos o reforço imediatamente a resposta emitida, assim vamos agregando motivação ao processo de ensino.
Durante o processo de aprendizagem vamos facilitar ao máximo as respostas da criança, dando todos os tipos de ajuda necessária. A nossa intenção é que a criança aprenda motivada, associando o aprendizado a atividades/objetos/comestíveis que ela gosta.
Vale ressaltar que este item motivador é particular a cada criança, cabe aos terapeutas e cuidadores a tarefa de investigar constantemente o reforçador que realmente motive sua criança. Tem criança que gosta de brincar com carrinho e bola, outras gostam de brincar de encaixe e quebra-cabeça. Algumas delas gostam de carinho e abraço bem leve, outras gostam de cócegas e serem jogadas para cima e tem ainda aquelas que não gostam de muito toque e preferem elogios. Ou seja, é importante prestar atenção detalhada e diferenciada para cada criança, para entender o que ela gosta e assim usar um motivador poderoso, que realmente controla o comportamento que está sendo ensinado. Quanto mais poderoso o reforçador, mais chance da criança responder à solicitação.
Se utilizarmos coisas que a criança gosta durante as atividades que ela não gosta muito, estas atividades vão, aos poucos, se tornando prazerosas para ela, por exemplo, vamos ensinar a criança a gostar de brincar de roda colocando uma música que ela goste, e a deixando brincar com algo de seu interesse sempre que ela estiver se comportando de maneira adequada. O emparelhamento do reforço arbitrário (música e brinquedos), com o contexto de brincar de roda, deve tornar esta atividade cada vez mais prazerosa para ela.
Vale ressaltar que mesmo para a mesma criança o reforçador pode mudar, dependendo do momento ou do contexto que está sendo vivenciado pela criança. Uma bala pode ser um reforçador poderoso quando faz tempo que a criança não tem acesso a este item. Se ela tiver acabado de chupar um pacote de balas, dificilmente a bala será reforçador poderoso naquele momento. Também precisamos ter jogo de cintura para perceber o momento da criança e mudar o reforçador sempre que necessário.
Uma dica que pode ser utilizada é separar um brinquedo muito reforçador, ou algum tipo específico de comida que a criança gosta muito para ser utilizada apenas em momentos específicos, que a criança apresenta mais dificuldade de realização. Por exemplo, uma criança com muita dificuldade para pentear o cabelo, pode-se isolar um brinquedo que ela goste muito e só usá-lo na hora de pentear o cabelo, deixando esta atividade menos aversiva, associando-a com este brinquedo.
Nosso papel é tornar o contexto terapêutico o mais agradável possível, usando a motivação como alicerce do ensino. Esperamos que, com o tempo, o reforço natural seja suficiente para a criança realizar a tarefa, porém, no momento de aprendizagem o item motivador é de extrema importância.

Autor: Paola C. Duarte Bellio – Coordenadora de Psicologia

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